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Ela cambaleante na certeza de que sonhos não possuem todos o mesmo colorido e amplificação, que não convergem num mesmo sentido e destino e numa prece secreta, o desejo de que nada os impeça de viver o exagero da viagem por cada segundo que fazem valer tanto a pena.
Os dois no lugar que escolheram para um encontro de madrugada, parco de luz, entre gente demasiada.
O bar do Hotel a fechar, as garrafas alinhadas, os copos imaculados, uma mesa apinhada onde se sentam entre amigos dela e dele.
-E se me desses a mão? Pergunta-lhe.
Ela assim o faz.
As mãos num incêndio.
A boca dele na palma da mão dela, o coração dela na extremidade dos dedos dele.
Ele a beijar-lhe a alma, a pedir-lhe que se entregue, a morder-lhe a orelha, a soletrar-lhe lenta e demoradamente o desejo que o trouxe ali.
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Ela inteira nos olhos dele sussurrando baixinho que do fundo do ser lhe chega a certeza que existe uma vida encantada onde cabem os dois e que quem arrisca tudo ganha nada perde, sendo que certo é o arrependimento do que nunca chega a ser.
Os amigos que conversam sem parar, frases em torrente mais velozes que o pensamento no receio de esgotar o que dizer.
Eles a gastarem as mãos à força de as apertarem na promessa e antecipação do que viverão fora dali.
As mãos num incêndio.
As dele acesas e demoradas no cabelo dela e com as testas encostadas, um segredo numa acrobacia arriscada que a faz corar.
Ambos conscientes que aquele não largar de mãos os denuncia e expõe à evidência do que sentem, do que são juntos, no lugar que escolheram para um encontro de madrugada, parco de luz entre gente demasiada.
Os dois no elevador.
Sozinhos, frente a frente a olharem-se fundo.
Entre eles um espaço curto que se vence com o simples gesto de dois passos.
Ela encostada num canto mal iluminado, ele no lado oposto tão hesitante quanto determinado.
A música “Under my skin” e o ruído suave do ar condicionado.
Ela a eternizar-lhe os traços: os olhos intensos; o nariz perfeito; o sinal no pescoço, o cheiro a canela.
Ele a imaginá-la sua por um tempo sem prazo de validade, poeticamente suave como a brisa que os conduz do Rossio ao Tejo.
Nela toda a prosa do mundo enquanto assegura, que vai esperar por ele, perseverante e crente, ainda que na ausência da presença inevitáveis sejam os sobressaltos até ao fim da espera.
Os dois no elevador.
Sozinhos, frente a frente a olharem-se fundo.
Ele a pintá-la numa planície outonal amarelecida, beleza incontida, ternura primeira, afeto perfeito, a mais absoluta intimidade.
Ela cambaleante na certeza de que sonhos não possuem todos o mesmo colorido e amplificação, que não convergem num mesmo sentido e destino e numa prece secreta, o desejo de que nada os impeça de viver o exagero da viagem por cada segundo que fazem valer tanto a pena.
Nas paredes do elevador, o painel de botões iluminado e fotografias a cru da cidade.
Ainda a olharem-se fundo, colando à pele a memória de noites perfeitas como aquela que cheiram a maresia de fim de Verão e nascem de uma mão cheia de verdade.
Cúmplices do silêncio por oito andares, privilégio de quem se conhece do avesso, por dentro e por inteiro e não encontra na pausa do discurso embaraço ou desconforto, antes preâmbulo incontornável do amor que reclamam e os cumpre.
Palavra alguma disseram, gesto algum precipitaram.
Há momentos mudos que ardem por uma vida inteira.