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Para Nós, que os temos em sala de aula, também gostamos de os sentir como únicos. É essa a nossa maior força. Conhecer o nome, os gostos, as preferências, as coisas boas e as que correm menos bem. Muitos professores acharão esta reflexão um exagero emocional, mas para que a aprendizagem seja melhor é quase imprescindível uma ligação emocional entre mim e cada um dos meus alunos. É também importante conhecer o estilo de aprendizagem que mais se adequa a cada criança para assim ajustar a “ensinagem”.
A paternidade em dose dupla é algo que marca a minha identidade e que me permite ter olhares diversos sobre a realidade, nomeadamente sobre a luta que os professores e as professoras da Escola Pública têm vindo a desenvolver nos últimos meses.
No caso do processo mediático em torno dos professores o desafio de explicar para fora o que se passa cá dentro é um exercício algo complexo e de utilidade duvidosa. Mas, acho que vale a pena correr o risco.
A primeira nota que queria partilhar resulta de uma convicção que qualquer trabalhador acompanhará. O mercado de trabalho está profundamente desregulado e a pressão sobre quem trabalha é gigantesca. Há horas para entrar, mas quase nunca há horas para sair. Telemóveis e computadores das empresas são sinónimos de disponibilidade permanente. Objetivos e metas para cumprir são mecanismos de pressão sistemática.
Não me parece que a situação de um Professor – no privado, muito pior que no público – seja muito diferente da de um enfermeiro, de um bancário ou de um executivo comercial. Vivemos todos num «burnout» laboral permanente.
Mas, no caso dos professores a consequência desta condição viola o mais elementar direito de um aluno. A sua singularidade.
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Para um pai, para uma mãe, o seu filho é único.
Para Nós, que os temos em sala de aula, também gostamos de os sentir como únicos. É essa a nossa maior força. Conhecer o nome, os gostos, as preferências, as coisas boas e as que correm menos bem. Muitos professores acharão esta reflexão um exagero emocional, mas para que a aprendizagem seja melhor é quase imprescindível uma ligação emocional entre mim e cada um dos meus alunos. É também importante conhecer o estilo de aprendizagem que mais se adequa a cada criança para assim ajustar a “ensinagem”.
Será que a Maria aprende apenas quando escreve ou será que é melhor para ela um esquema? E para o Miguel, um vídeo resulta melhor que um texto? E para a Catarina?
Claro que já não preciso explicar o que significa ter duzentos alunos e como isso torna impossível esta individualização, certo?
Também não preciso explicar que se nos obrigam a perder tempo com burocracias sem fim, ficamos sem tempo para estudar cada um dos alunos e desenhar cada um desses percursos individuais, certo?
E quem sai prejudicado?
O aluno mais frágil.
Mas, esta violência permanente de transformar o professor num simples burocrata também impede um outro processo absolutamente decisivo.
A criatividade, a capacidade de ajustar a “matéria” a cada uma das turmas, a cada um dos alunos.
Recordo, também, com saudade os tempos em que o salário me permitia o luxo de comprar os últimos livros de matemática, as mais recentes publicações na área das ciências da educação, assinar revistas ou jornais. Comprar livros.
E como isso era decisivo!
Muito mais do que ensinar o que sabemos, a nossa experiência passa por “ensinar” o que somos. Um profissional de e da cultura. Alguém que lê, que se atualiza, que conhece o mundo, que reflete sobre ele.
Admito, cara leitora, caro leitor, que a esta hora esteja a pensar que a sua condição é ainda pior. Contar os dias que sobram depois do fim do ordenado é uma tarefa absolutamente terrífica. Sobretudo se isso significar deixar de ter o mais elementar para os nossos filhos. Conte, se for esse o caso, com a minha solidariedade total.
Creio, no entanto, que os argumentos estão claros:
– a pressão laboral exercida sobre quem trabalha, no caso da Educação, prejudica os alunos;
– a burocracia, que em muitos casos é criada na escola, prejudica os alunos;
– as péssimas condições salariais prejudicam os alunos.
Ao contrário do que se diz, não há qualquer fuga do público para o privado. Há, isso sim, a fuga dos professores do privado, onde as condições são ainda piores que no público.
Poderão achar que no privado não há greves, que os miúdos têm sempre alguém a tomar conta. Tudo isso pode até ser verdade, mas a Escola não é um parque de estacionamento onde se deixa um filho para o ir buscar ao fim do dia. É muito mais que isso e são inúmeros os exemplos, até em Gaia, da incrível qualidade das Escolas Públicas quando comparadas com muitas instituições privadas.
Há, dos dois lados, bons e maus exemplos, certamente.
Assim, a questão central é a qualidade da Escola Pública que é suportada pelos nossos impostos. Porque é na Escola pública que se faz a diferença no futuro do nosso país.